domingo, 24 de maio de 2009





NOTA PÚBLICA DA CPT MINAS GERAIS 19 de maio de 2009

Despejo de quatro acampamentos do MST no sul de Minas Gerais

Ontem, dia 18 de maio de 2009, a Polícia Militar de Minas Gerais, após vários dias de pressão e ameaças aos Sem Terra, despejou 98 famílias de Sem Terra do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de quatro acampamentos, no município de Campo do Meio, no Sul de Minas. Foram despejados os Sem Terra dos Acampamentos Sidney Dias, Irmã Dorothy, Tiradentes e Rosa Luxemburgo.

Parte das famílias se refugiou em outros acampamentos do MST no latifúndio da ex-Usina Ariadnópolis. A maioria foi acolhida no Assentamento 1º do Sul, na ex-fazenda Jatobá, um exemplo de reforma agrária. Após ser desapropriada, a ex-fazenda Jatobá, hoje, Assentamento 1º do Sul, recebeu 40 famílias de Sem Terra que, hoje, além do direito de acesso a terra e à dignidade, produzem 1600 sacas de café por ano, 1200 litros de leite por dia, dão proteção às matas e nascentes de água e geram mais 180 empregos diretos.

Segundo uma Nota da PM a tropa compreendia 210 policiais militares fortemente armados com revólveres, metralhadoras, helicóptero, cachorros, cavalaria, três UTI’s móveis, carro do corpo de bombeiros, atirador de elite e dezenas de policiais de operações especiais da Tropa de Choque. A cidade de Campo do Meio ficou sitiada pela polícia. Nunca se viu tamanho aparato policial na região aterrorizando o povo. Ninguém circulava sem ser vistoriado. As lideranças do MST estão sendo perseguidas. Os policiais chegaram de forma truculenta. José Inocêncio, um sem terra, foi preso, porque insistiu em recolher um saco de mandioca para levar antes que o trator da polícia destruísse o mandiocal.

A polícia destruiu muitas plantações com patrola, trator, incendiando lavouras. Mataram cães das famílias Sem Terra com tiros. O vereador de Campo do Meio, Camilo Lelis Fernandes, tentou entrar em um dos acampamentos para acompanhar de perto o despejo, mas foi impedido pela polícia. Muitas crianças entregaram flores para os policiais e mostraram cartazes pedindo paz e apenas um pedacinho de terra. As crianças acabaram chorando muito juntamente com suas mães e avós, quando foram enxotadas de seus barracos e ao se verem cercadas por tamanho aparato bélico. Muitos Sem Terra se perguntavam: “Por que vocês policiais não estão correndo atrás dos grandes bandidos que infernizam a vida do povo brasileiro? Deixem-nos em paz. Queremos viver em paz, plantar sementes e criar com dignidade nossos filhos.”.

O povo Sem Terra está em estado de choque.

Nós da Comissão Pastoral da Terra hipotecamos nossa irrestrita solidariedade aos Sem Terra do MST e, com indignação, repudiamos mais esta covarde ação contra a dignidade de centenas de camponeses empobrecidos. Lamentamos com veemência a truculência da Polícia e condenamos o Presidente Lula como o grande responsável pela não realização da Reforma Agrária no nosso País. Lula dá bilhões para o agronegócio, enquanto asfixia cada vez mais a migalha de reforma agrária que acontecia na era FHC.

Os Sem Terra, para evitar mais um massacre, recuaram, mas jamais desistirão da luta, pois sabem muito bem que sem Reforma Agrária não haverá justiça social e nem sustentabilidade ecológica. Laudo da EMATER atesta que só na área do Acampamento Tiradentes, entre tantas outras plantações, os Sem Terra estavam na iminência de colher cerca de 1800 sacos de feijão. O que justifica perder uma safra desse porte em tempos de crise alimentar?

Dezenas de acampados do MST estavam debaixo da lona preta há 11 anos nos acampamentos do grande latifúndio da ex-Usina Ariadnópolis, que não cumpre função social. Pela sexta vez foram despejados, mas não desistirão da luta, enquanto não ver raiar no horizonte a verdadeira reforma agrária. Acusam os três poderes – Executivo (presidente Lula), Legislativo e Judiciário - por não realizarem a Reforma Agrária e por colocarem as famílias Sem Terra na iminência de mais um massacre em Minas Gerais.

Exigimos que o Presidente Lula assine sem mais tardar o necessário Decreto de Desapropriação por interesse social da Fazenda Ariadnópolis, nos termos da Lei 4132/62, em Campo do Meio, Sul de Minas Gerais. (Processo número 54170005006/0644). Somente com a desapropriação das terras da ex-Usina a paz como fruto de justiça se estabelecerá na região.

Exigimos do Governo de Minas Gerais, Aécio Neves, indenização das lavouras destruídas pela Polícia militar a partir do laudo da EMATER.

Exigimos que a polícia militar se retire da área e que não faça despejo dos outros Acampamentos de Sem Terra existentes no latifúndio da ex-Usina Ariadnópolis.

Para mais informações:
Silvinho (MST) – (35) 9167-9619 ou Marcos Forte (MST) – (35) 9186-9455
Frei Gilvander Luís Moreira (CPT Minas Gerais) - gilvander@igrejadocarmo.com.br ou (31) 9162-7970 e (31) 3221-3055.

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